ARAQUÉM ALCÂNTARA
Assumir o nosso macunaíma

Para fotografar o Brasil é preciso assumir o nosso macunaíma, nossa herança caraíba, nossa estética instintiva.
Ver pelas lentes de Guimarães Rosa, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Oswald e Mario de Andrade, de Glauber Rocha e outros.
O novo está aqui na mata virgem, na sabença de nosso povo.
É preciso desenterrar o Brasil desmemoriado, cultivar nossas verdadeiras raízes.
Caçar imagens com paixão de experimentador.
É uma peregrinação lenta, dolorosa, porque o fotógrafo verá uma natureza devastada, um brasileiro sucumbido, feito de fome e silêncio.
Mas ele sabe que quanto mais se aproximar do seu povo mais próximo estará de captar o seu caráter
Precisa da aventura para se conhecer, precisa da adversidade para celebrar.
Ao contemplar a beleza, cresce como ser humano… quanto mais rompe mato, menos sossega
O verdadeiro fotógrafo é provocador, navega entre a profecia e a loucura.
Sua ambição básica é repartir belezas e transformar consciências.
A criação é o que importa. Gesto fundamental. Alguma coisa como busca de Deus.
Olho-gatilho.
Uma outra visão que me auxilia a compreender melhor a vida. Visão direta, sem raciocínio, sem propósito.
Quando vejo uma criança e uma árvore, é uma criança e uma árvore que estão alí, em toda a sua nudez e brilho.
Não há perguntas a fazer, nem pensamentos. A composição é instintiva. Momento mágico.
A intuição me diz o que poderá acontecer, como bem disse André Breton.
Fotografar para mim é captar a respiração da vida.